Extended Duo
|
Extended Duo | Luís Gomes e Ana Telles
Recital de Clarinete Baixo e Piano
18 Março 2024, 19h30 | Lisboa Incomum
Com este novo recital, o Extended Duo prossegue o seu trabalho de interpretação e divulgação do mais recente repertório escrito em Portugal para clarinete baixo e piano, apresentando quatro obras em estreia absoluta de compositores portugueses de diferentes gerações, proveniências e estéticas.
O clarinete baixo afirma-se como um instrumento com repertório próprio e enquanto solista a partir da segunda metade do séc. XX em todo o mundo. Em Portugal, esta afirmação dá-se de forma mais tardia, especialmente a partir do novo século. Luís Gomes tem um papel preponderante neste desenvolvimento, devido à sua ligação ao instrumento e à sua formação específica em clarinete baixo, obtida num dos principais centros mundiais de formação deste instrumento, os Países Baixos, com os reconhecidos solistas e pedagogos Henri Bok e Harry Sparnaay.
Em Portugal, Luís Gomes desafia os compositores a escrever para o instrumento em todas as suas vertentes. Como solista, a solo, com piano e em diversas formações de música de câmara. Aliando-se a Ana Telles, cria o Extended Duo, formação responsável pelo surgimento de quase todo o repertório original para clarinete baixo e piano em Portugal.
Caracterizado por uma assinalável diversidade técnica e estética, o repertório apresentado neste recital revela grande riqueza e relevância no âmbito do instrumento e da música erudita contemporânea em geral.
Os dois intérpretes envolvidos neste projeto são duas personalidades marcantes nas suas áreas de especialização: a interpretação de música erudita contemporânea, a divulgação da criação musical desenvolvida em Portugal e o desenvolvimento do repertório para o clarinete baixo e piano.
Entrada gratuita, mediante reserva para [email protected]
Programa
Jorge Moniz: Desert Dance *
João Nascimento: Oito mandalas alentejanas *
António Victorino d’Almeida: Fantasia para clarinete baixo e piano *
João Vasco: Yaowarat *
*estreia absoluta
Notas de programa
Jorge Moniz: Desert Dance
A obra foi composta com base em motivos inspirados nos movimentos de uma dança no deserto, aludindo ao movimento rotativo do corpo, presente no piano, em contraponto com uma alusão a motivos melódicos imaginados a partir dos timbres de instrumentos de sopro característicos da música islâmica, aqui transpostos para o clarinete baixo. A opção e insistência num compasso 5/8 surge de forma natural e intuitiva, como aliás toda a peça, muito mais orgânica que cerebral. Ritmicamente, a toada geral deste momento musical pretende reflectir a monotonia de uma paisagem imaginada, predominantemente repetitiva, apesar de ligeiramente sinuosa.
Jorge Moniz
João Nascimento: Oito mandalas alentejanas
Mandala é uma palavra que em sânscrito significa círculo. É a síntese de uma determinada manifestação espacial, uma imagem do mundo, de indivisível totalidade, além de ser a representação e atualização de forças divinas. É uma imagem psicagógica, própria para conduzir aquele que a contempla à ‘iluminação’. Pode ainda designar uma representação simbólica da psique, cuja essência nos é desconhecida.
Esta obra, composta por oito pequenas peças a que chamei mandalas, inspira-se na particularidade de várias vivências alentejanas que me são próprias. Tenta ser, portanto, uma obra representativa da ‘experiência alentejana’ no aspeto da fluência da vida e do seu desenrolar. Da aragem que corre na planura alentejana, à filha ausente, ao grito alucinante de tia Lúcia que chora a morte do marida, à ternura da palavra do padre Carlos na sua igreja, esta obra é, na intenção do autor, uma expressão da cultura alentejana.
A partitura final data de 2013.
Dedicada à pianista Ana Teles e ao clarinetista Luís Gomes, músicos que tanto prezo e estimo, é ainda uma saudação de agradecimento a Mafalda Mendes de Almeida, na memória de um passado de apoio, que não esqueço.
João Nascimento, Ilhas de Arraiolos, 20 de Fevereiro de 2024
António Victorino d’Almeida: Fantasia para clarinete baixo e piano
João Vasco: Yaowarat
Yaowarat é o nome de uma das ruas mais movimentadas de China Town em Banguecoque, Tailândia. O fantástico frenesim de cores, sons e ritmos inspirou esta obra para clarinete baixo e piano, encomendada pelo clarinetista Luís Gomes e pela pianista Ana Telles.
Esta é a segunda peça de um ciclo intitulado "Mécanismes", no qual procuro evocar as grandes e pequenas engrenagens de repetição mecânica que orientam grande parte das tarefas da vida contemporânea. Esta obra apresenta uma estrutura A-B-A, na qual a secção central tem a função de paragem, reflexão, introspecção e extrapolação, contrariando a vertigem e inexorabilidade da caminhada sugerida nas primeira e terceira secções. A reexposição de A evoca o insondável e perpétuo ciclo de repetição que rege tudo e todos, também vislumbrado - como um fractal - nos pequenos, médios e grandes gestos musicais desta obra.
João Vasco, Lisboa 2023
Extended Duo
Luís Gomes, clarinete baixo
Ana Telles, piano
O Extended Duo, constituído por dois intérpretes reconhecidos na área da música erudita contemporânea, a nível nacional e internacional, assenta num trabalho conjunto com mais de 30 anos. Este agrupamento, com uma formação instrumental pouco comum (clarinete baixo e piano), já imprimiu a sua marca na história da música em Portugal. De facto, no nosso país, praticamente todo o repertório original escrito até à data para esta formação foi dedicado a estes dois músicos, ou estreado por eles. De entre as suas apresentações públicas, em Portugal e no estrangeiro, destaca-se a participação no congresso mundial de clarinete ClarinetFest, organizado pela InternationalClarinet Association, em Madrid, em 2015.
O seu repertório apresenta uma ampla diversidade estética, contando com obras escritas por compositores tais como Anne Victorino D’Almeida, Jean-Sébastien Béreau, António Victorino D’Almeida, Jorge Moniz, João Nascimento, João Vasco, Christopher Bochmann, entre outros.
A pianista portuguesa Ana Telles estudou em Lisboa, Nova Iorque e Paris, tendo obtido o grau de Bachelor of Arts (Piano Performance) na Manhattan School of Music e o de Master of Musical Arts (na mesma especialidade) na New York University. Estudou com Yvonne Loriod-Messiaen, Sara D. Buechner, Nina Svetlanova, Dmitry Paperno, Sequeira Costa e Alicia de Larrocha (Piano), bem como Isidore Cohen e Sylvia Rosenberg (Música de Câmara), entre outros.
Em Janeiro de 2009 defendeu a tese de Doutoramento subordinada ao tema: “Luís de Freitas Branco (1890-1955): parcours biographique et esthétique à travers l'œuvre pour piano” na Universidade de Paris IV - Sorbonne (França), em cotutela com a Universidade de Évora, sob a orientação de Danièle Pistone e Rui Nery, tendo obtido a classificação máxima.
Ana Telles tem tocado como solista e integrada em grupos de música de câmara em Portugal, Espanha, Alemanha, França, Itália, Irlanda, Polónia, Cuba, Brasil, Taiwan, Coreia do Sul e E.U.A. Apresentou-se em salas prestigiadas tais como a Salle Cortot (Paris), o Grande Auditório de Dijon (França), o Borden Auditorium (Nova Iorque, E.U.A.), a Sophiensaele (Berlim), o Grande e o Pequeno Auditórios da Fundação Calouste Gulbenkian, o Grande Auditório da Culturgest e o Pequeno Auditório do Centro Cultural de Bélem, entre outras.
Tem também participado em numerosos festivais, dos quais se destacam International Computer Music Conference, Jornadas Nova Música, Música Viva, Festival Internacional de Música de Aveiro, Festival «Colla Voce» (Poitiers, França), Ciclo Jovens Intérpretes (Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa), Festival “Música em Leiria, Festival “Música portuguesa hoje” (CCB, Lisboa), Festival “Outono de Varsóvia” (Polónia, 2008).
Foi solista com as seguintes orquestras: Orquestra Sinfónica Nacional de Taiwan, Gulbenkian, Metropolitana de Lisboa, Filarmonia das Beiras, Clássica da Madeira, Tutti de Levallois, Orchestre de Flûtes Français (Paris, França), dos estudantes do Conservatório de Dijon (França), Nuova Amadeus (Roma, Itália), e ainda com a Orquestra de Câmara e a Banda Sinfónica da Guarda Nacional Republicana, o Ensemble Palhetas Duplas e a Orquestra de Sopros da Escola Superior de Música de Lisboa.
Ana Telles colaborou com importantes solistas internacionais (Pierre-Yves Artaud, flauta; Arne Deforce, violoncelo; Frances Lynch, voz, entre muitos outros) e maestros (David Allen Miller, Peter Sundqvist, Franck Ollu, Jean-Sébastien Béreau, Paul Méfano, Adriano Martinolli D’Arcy).
Foi bolseira Fulbright (EUA) e da Fundação para a Ciência e Tecnologia.
Ana Telles é Professora Catedrática no Departamento de Música da Universidade de Évora e Directora da Escola de Artes da mesma Universidade desde Janeiro de 2017.
Fotografia ©Manuel Luís Cochofel
Luís Gomes
Detentor de vários prémios, apresenta uma notável carreira como solista e professor, tendo a sua actividade assumido especial relevância no clarinete baixo. Em Portugal, o papel de Luís Gomes enquanto solista deste instrumento foi pioneiro, tendo desenvolvido o seu papel no meio musical e contribuído para uma considerável expansão do seu repertório, quer a nível nacional, quer a nível internacional.
Membro do júri de diversos concursos nacionais e internacionais tanto de clarinete quanto de clarinete baixo, Luís Gomes foi solista das seguintes orquestras: Orquestra Mundial das Juventudes Musicais, Orquestra de Jovens do Mediterrâneo, Nova Filarmonia Portuguesa, Sinfónica Juvenil, Orquestra Portuguesa da Juventude, tendo tocado a solo com a Orquestra de Sopros do Conservatório Nacional, OrchestrUtópica, Orquestra de Câmara de Cascais e Oeiras, Grupo de Música Contemporânea de Lisboa, Banda Sinfónica da PSP e Orquestra do Festival de Clarinete de Monterrey no México.
Colaborou regularmente com a Orquestra da Fundação Calouste Gulbenkian entre 1989 e 2015, e ainda com as orquestras Sinfónica Portuguesa, OrchestrUtópica, Sinfonietta de Lisboa e Metropolitana de Lisboa.
Membro do Grupo de Música Contemporânea de Lisboa, do Rumos Ensemble, do Quarteto de Clarinetes de Lisboa, e do Extended Duo com a pianista Ana Telles, Luís Gomes é ainda diretor da CULTIVARTE Associação Cultural e da Obliquo Associação Cultural.
É professor de clarinete, clarinete baixo e música de câmara da Escola de Música do Conservatório Nacional e da Universidade de Évora.
Luís Gomes é artista Selmer Paris e Vandoren Paris.
Fotografia @João Vasco