Valerio Sannicandro & Ensemble DME | Residência Artística

 





Valerio Sannicandro & Ensemble DME - Residência Artística

 17 a 21 de Outubro de 2025 | Lisboa Incomum



O compositor Valerio Sannicandro estará em Residência Artística em outubro de 2025 no Lisboa Incomum para trabalhar numa nova criação musical para o Ensemble DME.

A residência culminará num concerto no dia 21 de Outubro, às 19h30 no Lisboa Incomum.


Entrada gratuita, mediante reserva para [email protected]


Programa

Jaime ReisSangue Inverso: Hematite (2025)**

Miguel AzguimeMelancholia (2017-2019)

Sara Carvalhosobre a areia o tempo poisa (2016)

Valerio SannicandroIconographiae (2025)*


*Encomenda Projecto DME e Estreia absoluta

**Estreia absoluta


Ensemble DME

Alex Waite,  piano

Ângela Carneiro,  violoncelo

Beatriz Costa, violino 


Notas de Programa

Sara Carvalhosobre a areia o tempo poisa (2016)

“sobre a areia o tempo poisa” [over the sands time stands still] foi escrita em 2016, encomenda do “38º Festival Internacional de Música Póvoa do Varzim”.

O título da obra é retirado do poema Fundo do Mar do livro Poesia I de Sophia de Mello Breyner Andresen.

Como sugerido no poema de Sophia, o meu material musical também se afirma partir de opostos que coabitam dentro de um mesmo espaço, onde tudo é tão dividido como interligado, como se de uma teia se tratasse. Assim, como num sonho, os eventos da obra sucedem-se de forma não linear; e o tempo, labirinto de viagens, vai libertando as memórias que já estavam esquecidas.


Valerio Sannicandro: Iconographiae (2025)

O trio para piano Iconographiae desenvolve-se como uma suíte de quatro peças breves, cada uma orbitando uma visão sonora singular e curiosa. Um segundo teclado — um pequeno sintetizador — produz ecos, texturas refletidas, espaços paralelos e cenários artificiais, entrelaçando-se com os timbres transformados dos instrumentos acústicos para criar um mundo sonoro simultaneamente estranho e luminoso.

O papel dos instrumentos electrónicos é, de facto, criar texturas sonoras paralelas que informam toda a interpretação (e estética) da obra e polarizar também a interpretação dos dois instrumentos de cordas. A preparação do piano — tanto a fixa como a executada em tempo real — ilumina a paisagem sonora caleidoscópica da obra, acentuando a sua essência percussiva e, por vezes, espelhando as texturas da electrónica.

Estas quatro imagens sonoras, esculpidas numa matéria musical aparentemente estável, abrem antes para uma sequência de gestos rica em dinâmicas e timbre, como se a sua dimensão simbólica revelasse um nível mais profundo de significado musical.


Biografias

Valerio Sannicandro

Ⓒ Annie Waterman
Compositor, maestro e investigador, Valerio Sannicandro estudou na Alemanha (com York Höller, Hans Zender, Peter Eötvös), em França (com Emmanuel Nunes) e obteve o doutoramento em Musicologia em Berlim (Technische Universität).

Profundamente imerso na ideia de espaço, a obra musical de Sannicandro abrange desde peças para solistas até grandes obras orquestrais, incluindo voz, teatro musical com um extenso uso de eletrónica ao vivo, tendo trabalhado no IRCAM, GRM, ZKM, Experimentalstudio Freiburg, ICST Zürich, Tempo Reale Firenze, entre outros. Associado (AAR 2013), Artista-em-Residência na Villa Kujoyama (Kyoto, Japão).
 
Valerio Sannicandro recebeu vários prémios (Claudio-Abbado-Kompositionspreis da Akademie der Berliner Philharmoniker, Musica Viva Munique em 2002 e 2010, Kranichsteiner Musikpreis em 2000 nos Ferienkurse Darmstadt) e várias encomendas (Bienal de Veneza, Donauschinger Musiktage, entre outras).


Ensemble DME

O Ensemble DME foi criado em 2013 no âmbito do Projecto DME, uma iniciativa fundada pelo compositor Jaime Reis para promover a prática da música contemporânea e electroacústica. Tem trabalhado com maestros como Jean-Philippe Wurtz, Jean-Sébastien Béreau, Pedro Figueiredo, Rita Castro Blanco, Valerio Sannicandro, entre outros.

Mais recentemente, o ensemble tem realizado projectos multidisciplinares, onde se destaca a estreia do espetáculo “Geometrias do Inelidível”, de Jaime Reis, produzido pela EMSCAN em 2022, o concerto co-organizado com o Instituto Italiano de Cultura de Lisboa, “Esplorazioni”, dedicado à relação entre espaço e som, com o compositor e maestro italiano Valerio Sannicandro, assim como colaborações com o Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian em torno de Iannis Xenakis e Mieko Shiomi, uma das fundadoras do movimento Fluxus.

O ensemble tem tocado em vários palcos e festivais, incluíndo a Logos Foundation (Ghent, Bélgica), Palladium (Malmö, Sweden), digressões no Brasil (2015, 2023), Auditorio Santa María (Plasencia, Espanha), Casa da Música (Porto), Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa), Palácio Foz (Lisboa), o Museu Nacional de Arte Antiga (Lisboa), e o Loop Festival (Bruxelas, Bélgica).

Desenvolve ainda vários projectos didáticos e pedagógicos com o intuito de se aproximar das camadas mais jovens de artistas, proporcionando experiências formativas em contexto performativo, oportunidades de criação colaborativa e contacto directo com a linguagem e estética da música contemporânea.

Jaime Reis

© Sofia Nunes
Jaime Reis (n. 1983) é um compositor português.

Estudou Composição e Música Electroacústica com João Pedro Oliveira, Emmanuel Nunes e K. Stockhausen. Continuou os seus estudos de doutoramento na Universidade Nova de Lisboa em Etnomusicologia.

O pensamento musical de Jaime Reis é informado pelo seu grande interesse pela investigação em ciências naturais e pela sua permanente atenção às tradições musicais - e, de facto, espirituais - asiáticas.

Um dos seus focos é a dinâmica das formas, forças e fluxos em música. Explora percursos polifónicos espaciais através de sistemas de som imersivos em forma de cúpula.

Outra característica marcante da sua música é a presença de conceitos complexos que sustentam a construção das suas peças, muito embora não distraindo o ouvinte da sua beleza sensível. As ideias funcionam como funções ocultas que, apesar do seu rigor intelectual, geram formas musicais voluptuosas.

Jaime Reis é professor de Composição e Música Electroacústica na Escola Superior de Música de Lisboa (ESML) e investigador no Instituto de Etnomusicologia da Universidade Nova de Lisboa. É director artístico do Festival DME e do Lisboa Incomum, que desenvolvem uma intensa actividade de investigação e criação de música erudita contemporânea.

A sua música foi tocada em todo o mundo por ensembles e músicos como Christophe Desjardins, Pierre-Yves Artaud, Aida-Carmen Soanea, Ana Telles, ensemble Fractales, Ensemble Horizonte, Grupo de Música Contemporânea de Lisboa, Machina Lírica, Orchestre de Flûtes Français e Aleph Gitarrenquartett.

Monika Streitová, flautista e Professora na Universidade de Évora

in jaimereis.pt; última actualização: Maio 2020


Sara Carvalho

Sara Carvalho é compositora, professora associada na Universidade de Aveiro e investigadora integrada do INET-md.

O seu portfólio inclui mais de 90 obras para instrumento solo, ensemble e orquestra, que exploram gesto, narrativa musical, público enquanto performer e colaboração compositor-performer. Participa activamente na vida académica, integrando júris internacionais e organizando conferências. 

As suas obras, regularmente tocadas internacionalmente, são encomendadas de instituições, ensembles e solistas de renome; encontram-se editadas em diversos CDs e são publicadas no Centro de Investigação & Informação da Musica Portuguesa, Babel Scores e Wirripang Pty. Ltd, Austrália. A sua investigação está ainda publicada em revistas e livros, incluindo a Ashgate/SEMPRE e a Imperial College Press.


Miguel Azguime

Distinguido pela sua versatilidade, o universo criativo de Miguel Azguime reflecte uma abordagem que se baseia nas suas capacidades multifacetadas enquanto compositor, performer e poeta, sendo que esta tridimensionalidade desafia concomitantemente uma certa visão quase mística da arte.

Os inícios do seu percurso musical são marcados pela participação em várias formações de jazz e improvisação, pelos estudos de percussão com Catarina Latino, Júlio Campos e Gaston Sylvestre, e também pela participação em vários cursos e seminários de composição, por exemplo em Darmstadt, e ainda com Emmanuel Nunes e com Tristan Murail.

Um momento decisivo do seu percurso ocorreu em 1982 através do contacto com o flautista Pierre-Yves Artaud. Assim nasceu o Miso Ensemble, um duo de flauta e percussão, criado por Paula Azguime e Miguel Azguime em 1985, que desde o início se distinguiu pela procura de uma outra forma de fazer música, incluindo o uso de amplificação e de meios electrónicos. A filosofia muito própria do Miso Ensemble reflecte-se no seu nome: MISO, um ingrediente tradicional da culinária japonesa feito a partir de um longo processo de maturação, que vai ao encontro de um ideal de vida, pessoal e colectiva.

A partir dos anos 90 a dupla artística, Paula e Miguel Azguime, começou a desenvolver a sua actividade no estrangeiro em colaboração com outros intérpretes e compositores. Esta foi também a altura em que Miguel Azguime iniciou uma transição na escrita composicional, de uma forma mais livre para uma forma mais rigorosa, com a utilização quase sistemática de meios electrónicos em tempo real. Esta transformação propiciou a sua afirmação enquanto compositor, cuja música e linguagem pessoal é hoje em dia amplamente reconhecida.

Paralelamente à sua actividade criativa Miguel Azguime permanece dedicado à promoção e difusão da música de invenção e pesquisa e em particular de compositores portugueses, tanto como fundador da Miso Music Portugal, como director artístico da editora Miso Records e do Festival Música Viva, e ainda como fundador do Miso Studio e do Sond’Ar-te Electric Ensemble. Em 1995 desenvolveu também a Orquestra de Altifalantes, um projecto dedicado exclusivamente à interpretação da música electroacústica; e ainda em 2003, juntamente com Paula Azguime, fundou o Centro de Investigação & Informação da Música Portuguesa, uma plataforma digital de investigação, preservação, comunicação e base de dados, disponível em www.mic.pt, sobre o património musical português do presente para o passado, incluindo documentos numerosos em vários formatos assim como edição e distribuição de partituras.

No percurso composicional de Miguel Azguime mais um dos momentos decisivos constitui certamente a residência da DAAD em Berlim (2006), contexto que propiciou a criação e produção da ópera multimédia Itinerário do Sal – o culminar de um processo de integração entre escrita poética e escrita musical. Esta obra conduziu a uma nova forma de colaboração criativa no seio do Miso Ensemble, com a implementação e consolidação de processos criativos conjuntos na música, dramaturgia e imagem, iniciados com Paula Azguime para as obras Yuan Zhi Yuan (1997/98), O Centro do Excêntrico do Centro do Mundo (1999/2002) e depois desenvolvidos na ópera infantil A Menina Gotinha de Água (2011) e na ópera A Laugh to Cry (2013).

As ligações entre as múltiplas actividades exercidas por Miguel Azguime, como compositor, poeta e performer, deram origem ao seu interesse pelo domínio que o próprio artista designa por “palavra-sentido / palavra-som”, numa tentativa de aproximação entre a componente semântica e metafórica da palavra e os seus parâmetros sonoros. Esta abordagem é típica não apenas nas suas peças operáticas mas também na música de câmara, instrumental e electroacústica, simultaneamente reflectindo as “viagens iniciáticas“ do compositor no processo de criação de cada obra. Vários traços destes princípios encontram-se na produção mais recente de Miguel Azguime.